Hoje, num dia qualquer de qualquer ano,
Em qualquer século,
Na posse de todas as minhas plenas faculdades mentais e físicas
E assumindo enquanto vivo e escrevo...
Em qualquer século,
Na posse de todas as minhas plenas faculdades mentais e físicas
E assumindo enquanto vivo e escrevo...
Declaro que me declaro culpado.
Culpado de tudo que não disse,
De tudo que não vi nem ouvi,
Das palavras que não disse a tempo
E das outras, que nunca aprendi.
Preocupei-me por coisas que jamais aconteceram
E passei grande parte da minha vida
Em lugares errados, em horas erradas,
Com pessoas erradas.
Declaro que cheguei tarde a todos e em todos os lugares,
Em que nunca estive antes.
Que encontrei a primavera florida,
A terra repartida
E o céu prometido...
Que tudo o que tenho é mais do que me faz falta
Que no que acreditava, não acredito mais...
Que cometi o pior dos erros:
Sonhei num mundo de pesadelos.
Declaro também, que não há nada mais certo
Que a nossa passagem pela vida
Nem nada é mais falso do que nossa vida a passar.
Que é feliz aquele que não quer nada,
Que não sabe nada, que não se pergunta por nada
E que não se dá conta de nada.
Que de uma mão temida
Pode vir a surgir o amor nela contido
Que tudo que não se da, não se acumula, se perde.
Que somos no final de tudo,
Escravos de algum vício
Ou de alguma virtude.
Que tenho sido fiel somente as minhas dúvidas.
E que o homem mais livre que conheci,
Era preso ao coração de uma mulher.
Gian Franco Pagliaro - "Declaración"
1 comentário:
Como é que é possível...é o que me pergunto!!A tua história citada, palavra a palavra! É profundo...MS
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