sexta-feira, 24 de julho de 2009

" Numa rua da Penha de França "


A conversa começou assim e quando dei por mim, depois de muitas outras conversas das quais nem sequer me lembro da temática, saímos do restaurante e caminhamos lado a lado em silencio durante alguns minutos pelo empedrado de uma rua íngreme desta nossa cidade.
A certa altura, e sem que nada o evidencia-se, Maria agarrou-me pelos colarinhos e empurrou-me para dentro da porta de um prédio que se encontrava aberta, atirando-me contra as caixas de correio, beijou-me freneticamente, enquanto os seus lábios percorriam, de cima a baixo, todo o meu corpo.

Comecei quase de imediato a sentir um calor fora do normal, alem de que havia certas zonas do corpo às quais o sangue chegava de uma maneira completamente descontrolada.
Nesse momento senti que a situação me estava a fugir das mãos, mas ao mesmo tempo sentia-me vivo, como há muito tempo não me sentia. Ela continuava..., estava completamente louca...

Beijava a minha boca com um entusiasmo louco e pouco a pouco após deixar cair a minha gabardina para o chão, levantou-me a camisola até ao pescoço e tirou-me a camisa de dentro das calças.

Eu estava em absoluto êxtase, a respiração de ambos era ofegante... houve um pequeno momento de silencio, até que eu não aguentei e, ainda meio desengonçado, deixei-me deslizar pela húmida parede até que as minhas nádegas sentiram o chão frio.

Nesse exacto momento aproximou-se novamente de mim e voltou a beijar-me na boca, mas desta vez os seus lábios já tinham o sabor das caricias de um anjo...


O Amor, a loucura e a paixão vista pelos olhos de um homem só.

..." Sete meses " ...


Hoje levantei-me com a estranha capacidade de me lembrar de tudo, isto apesar de não saber exactamente em que dia da semana me encontro.
No fundo o que eu acho curioso é esta capacidade de sentir tudo de uma maneira tão profunda, tão genuína, tão minha, e ao mesmo tempo não sentir absolutamente nada.

Lembro-me de coisas para as quais nunca tinha dado importância e começo a sentir um nervoso miudinho à flor da pele que, pouco a pouco, me inquieta, me irrita, pois não consigo compreender a razão pela qual me sinto assim.

Sinto-me tão estranho que quase não me conheço. Rio à gargalhada em frente ao espelho, sozinho, enquanto faço a barba, mas no fundo nada existe que tenha graça. Sete meses que parecem sete anos... Sete meses são uma parte da vida, uma parte da alma que sei que não quero perder.

..." Junho de 2008 " ...


Olho pela janela, lá fora parece que faz um frio de rachar. Mesmo com a janela fechada sinto a humidade a entrar lentamente, neste quarto escuro, até aos ossos.

Desta vez estou sozinho sem velas, sem bolo ... sem ninguém. Hoje perdi a ilusão pelas festas de aniversário, mesmo quando estive rodeado por gente que me quer bem, e que me abraçava desejando encontrar-se comigo nos cinquenta anos seguintes (isto se eu lá chegar).

Hoje nem a minha sombra quis estar ao meu lado, nem sequer ficou sentada comigo à hora do jantar.

Não sei se estou embriagado ou apenas um pouco alegre, mas sinto que o álcool ainda não me chegou ao cérebro, o que me faz ter aquela sensação de aparente sobriedade e me faz pensar que consigo actuar com clareza quando assim me for solicitado.

... " Vida Tão Estranha" ...


São de veludo as palavras
Daquele que finge que ama
Ao desengano levo a vida
A sorte a mim já não me chama
Vida tão só
Vida tão estranha
Meu coração tão mal tratado
Já nem chorar me traz consolo
Resta-me só o triste fado
A gente vive na mentira
Já nem dá conta do que sente
Antes sozinha toda a vida
Que ter um coração que mente

Rodrigo Leão / Ana Carolina

do CD " A Mãe "

segunda-feira, 20 de julho de 2009

... " A minha alma " ...


Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita.
Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou.
Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.

Clarice Lispector

... " Tenho pensamentos que " ...




Tenho pensamentos que,
se pudesse revelá-los e fazê-los viver,
acrescentariam nova luminosidade às estrelas,
nova beleza ao mundo
e maior amor ao coração dos homens.

Fernando Pessoa.

sábado, 11 de julho de 2009

..."Não hesitava um segundo"...


Entre os teus olhos azuis
E um quadro azul de Picasso
Entre o som da tua voz
E o som de qualquer compasso
Entre o teu anel de prata
E todo o ouro do mundo
Escolheria o que é teu
Não hesitava um segundo

Quantas ondas há no mar
Quantas estrelas no céu
Tantas quantas nos meus sonhos
Eu fui tua e foste meu
Entre o teu anel de prata
E todo o ouro do mundo
Escolheria o que é teu
Não hesitava um segundo

Entre o céu da tua boca
E a luz do céu de Lisboa
Entre uma palavra tua
E um poema de Pessoa
Entre a cor do teu sorriso
E todo o brilho do mundo
Escolheria o que é teu
Não hesitava um segundo

Entre o teu anel de prata
E todo o ouro do mundo
Escolheria o que é teu
Não hesitava um segundo

Ana Moura

..."Sei de um rio"...


Sei de um rio, sei de um rio
Em que as únicas estrelas nele sempre debruçadas
São as luzes da cidade
Sei de um rio, sei de um rio
Onde a própria mentira tem o sabor da verdade
Sei de um rio…

Meu amor dá-me os teus lábios, dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede, mas o sonho continua
E a minha boca até quando ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
Sei de um rio, sei de um rio
Meu amor dá-me os teus lábios, dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede, mas o sonho continua
E a minha boca até quando ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrandoSei de um rio, sei de um rio
Sei de um rio, até quando



Pedro Homem de Melo – Alain Oulman


in Sempre de Mim, 2008

quinta-feira, 9 de julho de 2009

... " Deveria chamar-te "...


"... Deveria chamar-te claridade

Pelo modo espontâneo

franco e aberto

Com que encheste de cor o meu mundo escuro..."