quinta-feira, 26 de julho de 2007

"Adeus"

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo
era um aquário,
no tempo em que os teus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.

E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração.

Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

( Eugénio de Andrade)

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá… que surpresa maravilhosa!

Esperava encontrar aqui toda a gente menos tu! Andava a percorrer os blogues quando vi a tua foto. O nome ainda me fez duvidar que fosses mesmo tu, mas quando olhei para os teus olhos então não tive dúvidas. És mesmo tu! Apesar de não te ver há muito tempo, reconheci-te logo. As tuas feições não mudaram. Parece que já tens uns cabelitos brancos, mas isso só te dá ainda mais charme.

Não te imaginava mesmo a escrever pensamentos num blogue… Vejo que mudaste um bocado. Mas os sentimentos que manifestas não me espantam. Sempre foste muito emotivo e de caracter, nisso pelos vistos não mudaste. Percebo que estás a passar por uma fase menos boa da tua vida. Sei o que isso é, vivi recentemente uma situação semelhante. Quero que saibas que estou disponível para ti. Tens aqui um ombro amigo, caso queiras desabafar. Encontras-me facilmente, ainda moro onde me deixaste há 18 anos.

Encontrar-te aqui proporcionou-me uma bonita viagem no tempo. Foi bom recordar!

beijo - Xana

Homem sem rosto disse...

Olá, Xana

Antes de mais, quero agradecer-te o comentário que me fizeste.
Como calculas, o tempo passa e deixa marcas indeléveis em todos nós.
No entanto, fiquei com o ego cheio só de pensar na hipóteses de que alguém que se cruzou na vida se poder lembrar de mim ao fim destes anos todos.

Confesso que fiquei com alguma curiosidade em saber quem tu és, uma vez que o nome Alexandra é muito comum e eu tenho receio de te estar a confundir com outra pessoa. Gostava que me elucidasses sobre o seguinte: moras ainda aonde? E o teu sobrenome de solteira qual é?

Beijo e mais uma vez obrigado pelo teu comentário.
Bom fim-de-semana.

Anónimo disse...

Olá "Carlinhos"

Conheces-te tantas Alexandras assim?!... Bom, vou então tentar situar-te. Fui tua colega de escola, na ......., e moro em São Pedro do Estoril, na casa que era dos meus pais. Quanto ao meu sobrenome... faz um exercício de memória que acabas por lá chegar...

Olha "Carlinhos", eu lembro-me muito bem de ti. Eras o meu homem do Denim. E de muitos outros anúncios que faziam as delícias das minhas amigas todas, que morriam de inveja por eu sair contigo!

Beijos, e diz qualquer coisa(liga para as informações da PT)