terça-feira, 27 de janeiro de 2009

..." Doce confusão " ...



Faz hoje precisamente um ano, um mês, um dia, um momento, um instante, que parti.
Era um dia simples, mas repleto de magia, esse dia em que parti, esse dia em que deixei ao fundo da rua as palavras e os seixos de um passado, mergulhados na água já amarela da jarra aonde repousava um velho ramo de flores.

Faz hoje precisamente um momento, em que deixei de escrever na carne um amor incompleto e frio que teimava em se manter no meio das mãos.

Há pois um mês que parti.
Faz hoje, um mês, um ano, uma vida que tu és este neste meu peito, um rio Tejo repleto de muitas e sabias palavras, como se um homem sentado no chão do quarto se sentisse no interior da terra ou como se fosses simplesmente o ar puro que tanto desejo respirar.
Há pois um dia, um mês, um ano em que tu és o corredor que atravesso todos os dias em direcção a esse novo mundo.

Agora palavras tão simples como morrer ou reviver, são sentidas da mesma forma como alguém que encosta a cara a quilha de um barco e toca a água que espelha o céu estrelado de uma qualquer noite quente de verão.

Consegues Ver-me?.
Será que já me vês?.
Sabes há um mês que parti, tal como o cantar das águas repletas de espuma, que se dissipam contra a quilha de um barco que navega neste rio, chamado Tejo.

Que flores são essas, que hoje repousam na prateleira dessa tua sala?, enquanto lá fora as estrelas rompem o céu estrelado como quem teima massaja esta minha face endurecida pelo sofrimento de uma outra viajem.

Há um mês que parti, penso enquanto escuto ao longe o tocar de um sino neste silencio frio e tenebroso. Não quero ser mais aquele texto sem poros, sem palavras.

Hoje sou o barco de quilha alto na espuma cega, que no mar revolto mergulha decidido nos filamentos desse amor.
Hoje sou aquela chama que teima em chamar por ti, por aquela mulher ardente, por aquela noite magica junto ao mar.
Hoje sou aquele movimento celeste da espuma que banha o corpo dessa mulher, que se despe até a fundo da sua inocência.
De uma inocência tão branca que só podia ser habitada pelo silêncio e pela harmonia perfeita desse magico ser.

Faz hoje um mês, um ano, uma vida que eu beijei cada onda tua e desde esse simples instante que perdura, dentro de mim, um ser terno que me leva em direcção a esse mar.
Talvez por isso, hoje a minha respiração são aquelas ondas que te banham o corpo, e que teimam em penetrar por essa terra dentro.
Sou o corpo que bate contra mim nesse mar aonde dormem as estrelas, sou o campo repleto de restolho que o fogo devora de uma forma tão particular.

Faz hoje um momento em que os campos pintados de branco gélido, foram lavrados pela candeia de um homem que já partiu.
Por esse homem que hoje deixei para trás, para me desdobra na procura de um ser perfeito, que és tu, que vive na imperfeição deste novo mundo que hoje percorro.

Sou hoje este ser que te procura, a ti mulher.
A ti que estremeces quando à noite te chamo pelo teu nome.
Se hoje sussurro, murmuro, morro e crio.
Hoje também recrio, respiro e contigo apanho flores neste beira rio, enquanto teimo em desentranhar o sonho que perdura dentro das tuas belas e doces mãos.

Hoje eu sou aquele mês que partiu, aquele peito desocupado pelo azul, mas que sempre se ilumina ao sentir o quente que permanece no do interior do teu corpo.

Hoje eu sou tu, e tu talvez um dia consigas ou queiras ser eu…

1 comentário:

Anónimo disse...

sem duvida...uma doce confusão...MS