domingo, 2 de agosto de 2009

... " Uma certa vida " - parte I


Sentia-se satisfeito com esta sua nova condição de "macho", mas no entanto essa sua aparente satisfação não era vinculativa do seus sentimentos enquanto homem, nem demonstravam qualquer felicidade.

No fundo não sabia quais eram os seus verdadeiros sentimentos pela sua actual vida. Havia dias em que sentia dificuldades em olhar para essa "vida" enquanto amante, talvez porque tinha tido a audácia de lhe contar coisas que só uma grande amiga podia saber... Conheciam-se a demasiado tempo, mas ao mesmo tempo parecia que tinha sido ontem....

Nele residia uma intensa necessidade de viver, de sentir aquele mistério que envolve o primeiro olhar, o primeiro beijo, a primeira caricia, o primeiro passo... antes da entrega total.

Há muito que procurava uma mulher, uma amiga, que se entregasse de uma forma louca e total.

Alguém a quem fosse possível pedir algo diferente, pessoal e único, alguém que tivesse a capacidade de satisfazer esses desejos mais loucos e perversos. Ás vezes basta um olhar para sabermos que o passo seguinte pode ser o WC feminino de um qualquer estabelecimento, ou aquele beco sem saída, escuro ao cair da noite... era no fundo tudo uma questão de olhares.

Á medida que as noites passavam as fantasias que cada um preparou foram sendo postas de parte. A noite cada um dava asas a imaginação de molde a combater qualquer sensação de monotonia, saturação, ausência de vontade.

Lembro-me de que dormiram juntos, pela primeira vez, ainda gatinhavam arrastando as fraldas pelo soalho frio. Nessa altura todos os barulhos eram motivo de brincadeira, e sempre que possível tocávamos os seus corpos de forma tão inocente... e aquilo que em tempo foi a descoberta de " um mundo novo " hoje é apenas mais um ritual. Quando tinham "conversas serias" diziam sempre que nunca se casariam e que dizer a alguém "eu te amo" estaria fora de qualquer questão. Beijar na boca então, nem pensar, só de imaginar que o contacto dos lábios poderiam levar a transmissão de tantos milhares de bactérias, seria definitivamente demasiado arriscado para os seus pequenos organismos indefesos.

Ao principio saiam para passear, jantar fora e ao fim da noite cada um regressava para a sua casa, até... que o sol voltasse a despontar no horizonte na manha seguinte.

Agora tudo era diferente...

1 comentário:

F. disse...

Muito belo ...
Muito bela a Vida, mas é preciso encontrar esse Alguém e saberem manter a chama viva ... é a Vida.
Não é fácil, eu sei.
Mas há que sonhar ... sempre.