sábado, 1 de agosto de 2009

... " Querer " ...



Ele apenas queria amá-la um pouco mais do que ela lhe pedia. Queria ser um bom pai, um bom namorado, um bom amante, apenas queria...

Ele "só" queria tantas, e tantas coisas, que acabou por se transformar num estorvo.

Como pode um ser deixar-se afundar, sem tentar esbracejar para vir a superfície? Como pode um ser humano deixar-se arrastar pela corrente da vida, sem sequer tentar agarrar-se à vida?.

Como se pode caminhar em direcção ao precipício de olhos vendados, como se estivesse de costa para a vida?. Na realidade tudo é possível, mesmo que tudo nos indique o sentido oposto.

De que lhe serviram tantas horas fora de casa?, de que lhe serviu andar no meio de montes de papeis rabiscados com pedidos de clientes, facturas, notas de credito?.

Apesar de tantos esforços, após anos e anos a fazer a mesma coisa, no ritmo frenético que os outros lhe impuseram, fizeram com que se transformasse num ser freneticamente criado para si próprio. Por ele passaram os dias sem que desse conta que isso o estava a destruir, fosse qual fosse a direcção que tomasse. Ele sentia que aquilo estava a acabar consigo, de uma forma quase paulatina. Mas se o dinheiro não era tudo ..., como poderiam passar mais tempo juntos se não sabiam o que ambos queriam... eram dois desconhecidos a viver sob o mesmo tecto.

Quando um dizia uma coisa, o outro refutava sem qualquer explicação. Quando um dizia para a esquerda, o outro dizia automaticamente para a direita, e assim sucessivamente até se fartarem de discutir e um saísse porta fora.

Foram aprendendo a viver na solidão que criaram, cada um no seu lado do sofá, com a vida sempre no meio. Lembro-me que ela, a vida, era muito ciumenta e nunca os deixou andar de braço dado, não suportava que tivessem atitudes de carinho um com o outro...

No fundo sempre houve uma desculpa para que o vazio entre ambos fosse cada vez maior...

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