domingo, 6 de janeiro de 2008

Os Nossos Filhos - parte I



Ao longo da nossa vida, nós pais, vamos ficando gradualmente órfãos dos nossos próprios filhos.
Isto porque as crianças vão crescendo independentemente de nós, crescem sem pedir licença à vida, crescem com uma estridência alegre, e por vezes com uma invejável arrogância.

Não crescem todos os dias de igual forma. Crescem sim de repente.
Um dia sentam-se ao nosso lado e dizem aquela frase com total maturidade que nós entendemos nesse momento que jamais será possível trocar as fraldas daquela criatura.
E aonde andou aquela criança, que nós nem demos por ela? Aonde está a pá de brincar na areia, e a festa de aniversário com os palhaços?.

Pois é aquela criança cresceu diariamente num obediência orgânica e numa desobediência civil.....

E agora nós estaremos ali, na porta da discoteca, esperando que a nossa criança não apenas cresça, mas apareça! Pois esses são efectivamente os nossos filhos. Aqueles que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das noticias e acima de tudo da ditadura das horas.

Assim eles cresceram meio amestrados, observando e aprendendo com erros e com as nossas verdades. Principalmente com os nossos erros, que nós esperamos que estes já mais os repitam.

Existe pois um período em que nós Pais vamos ficando cada vez mais órfãos dos nossos filhos.
Já não é possível encontrar-los a porta das discotecas e das festas do liceu. Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do karate. Saíram inesperadamente do banco de trás e passaram para o volante das suas próprias vidas.

Nessa altura lembrar-me-ei, com saudade, do tempo que ia a cama deles, ao anoitecer, para ouvir as suas almas respirarem conversas e confidências entre os lençóis da infância, e daqueles quartos cheios de adesivos, posteres, agendas coloridas e discos ensurdecedores.

Nesse dia, estou certo que acharei que não levei aquelas crianças vezes suficientes ao parque, aos centro comercial, ao cinema, não lhes dei suficientes hamburgueres e coca-colas, não comprei todas as roupas que estes desejavam, não .....

Eles cresceram, cresceram e nós não esgotámos neles todos os nossos afectos.

3 comentários:

BlueVelvet disse...

Pronto!
Estragou definitivamente a hipótese de sermos amigos.
Por sua causa chorei as 1ªs lágrimas de 2008.
Não sonha como é verdade tudo o que escreveu.
Completa e totalmente órfãos de filhos ficamos nós.
E com isso totalmente sós, porque aquele amor, não o damos a mais ninguém.
Acredite que sei do que falo.
Mesmo assim, cá ficam uns veludinhos para si. :)

Ps: Mandei-lhe um mail. Viu?

Maria Laura disse...

O teu texto é totalmente verdadeiro. Há quem diga que é a lei da vida, sei lá se têm razão... Mas a tua frase final, essa é magistral. Não esgotamos e nem devemos esgotar. Parece-me e é só uma opinião.

Joana Roque Lino disse...

podes não ter dado todos os teus afectos, mas tenho a certeza que os amas de forma incondicional. um beijo, carlos.