segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A Nossa Alma Gémea - parte I



Aristófanes, contemporâneo de Sócrates, foi um poeta cómico grego que afirmou que no começo dos tempos os homens eram duplos, com duas cabeças, quatro braços e quatro pernas.
Esses seres mitológicos eram chamados de andróginos.
Os andróginos podiam ter o mesmo sexo nas duas metades, ou ser homem numa metade e mulher na outra.
Desta forma Aristófanes tentou explicar a origem e a importância do amor.

Esse mito fala-nos que os andróginos eram muito poderosos e pretendiam conquistar o Olimpo dos deuses.
Para esse efeito construíram uma gigantesca torre. Os deuses, com o intuito de preservar o seu poder, decidiram punir aquelas criaturas orgulhosas dividindo-as em duas, criando deste modo os homens e as mulheres.

Segundo ainda o mito, é por esse motivo que homens e mulheres vagueiam infelizes, desde então, em busca de sua metade perdida. Tentam muitas metades, sem encontrar a realmente certa.

A parte do mito sobre a origem da humanidade perdeu-se ao longo das eras, mas a ideia de que o homem é um ser incompleto, na sua verdadeira essência, perdura até hoje.
Talvez seja em função disso que o ser humano busca, incessantemente, por encontrar a sua alma gemea que o venha preencher na sua carência afectiva.

Embora o romantismo tenha sustentado esse mito por milénios, e muitos de nós desejemos que exista essa nossa eterna metade, é no entanto lógico reflectirmos um pouco sobre essa incessante busca, à luz da razão.

Se por ventura nós fôssemos seres incompletos, então perderíamos a nossa propria individualidade. Seríamos um espírito pela metade, e não poderíamos progredir, conquistar virtudes, ser feliz, a menos que nossa outra metade se juntasse a nós.

É lógico que ao longo da nossas vivencias vamos encontrar muitas pessoas com as quais temos muitas coisas em comum, mas esses são seres inteiros, e não pela sua metade.
Na realidade o que acontece é que, quando nos cruzamos com uma pessoa com a qual temos afinidades, desejamos retê-la para sempre ao nosso lado.
Até essa momento não existe nenhum inconveniente, mas acontece que geralmente desejamo- nos fundir numa só criatura, como os andróginos do mito.

É pois nessa tentativa de fusão que surge a confusão, pois nenhuma das metades quer abrir mão da sua forma de ser.
Por norma tentamos moldar o outro ao nosso gosto, violentando-lhe a sua individualidade.

O respeito ao outro, a aceitação da pessoa da forma que ela é, sem dúvida, o garante de um bom relacionamento.
Desta forma a relação entre dois seres inteiros é superior à que podia existir entre duas metades.
São as diferenças que dão a tónica dos relacionamentos saudáveis, pois se pensássemos de maneira idêntica à do nosso par, em todos os aspectos, não existiria uma vida a dois.
São pessoas com ideias diferentes que permitem um crescimento mútuo, sem que para tal um pretenda que o outro se modifique de molde a se transformem num só.

Desta forma sou levado a pensar que não obstante o romantismo esteja presente em todas as telenovelas, filmes, peças teatrais, indicando que a felicidade só é possível quando duas metades se fundem, essa não corresponde a realidade, já que todos nós somos espíritos inteiros, a caminho do aperfeiçoamento integral.
Não seria justo que os nossos esforços na conquista de virtudes fossem em vão, pelo simples facto de tal depender de uma outra criatura, da qual não sabemos nem se esta tem interesse em se aperfeiçoar.

Por todas essas razões, acredito que não necessito de encontrar a minha outra metade para poder ser feliz.
Assim, hoje luto por construir na minha própria existencia um recanto repleto de paz, de alegria, de harmonia e segurança, como espírito inteiro que pretendo ser.
Só desta forma, entendo, que terei algo mais para oferecer a quem se cruza no meu caminho, munido da sua propria individualidade e com o devido respeito à individualidade do outro.

Geralmente, é na posse da juventude do nosso corpo que despertamos o interesse na buscar de alguém do sexo oposto para compartilhar os nossos sonhos.
Quando encontramos essa alma eleita, o coração parece bater na garganta e ficamos sem qualquer tipo de acção. Elaboramos frases perfeitas para causar o impacto desejado, a fim de não sermos rejeitados.
Então, tudo começa.
O namoro é o "doce e belo encantamento".
Então rapidamente começamos a pensar na possibilidade de consolidar a união e desta forma nos preparamos para o "desejado" casamento.Temos a plena convicção de que seremos eternamente felizes. Nada nos impedirá de realizar os sonhos acalentados na nossa intimidade.

6 comentários:

Anónimo disse...

gostei imenso da tua dissertação sobre a individualidade. muitíssimo. fazes-me pensar numa altura em que preciso mesmo de o fazer,porque há alturas da vida em que é premente e urgente perceber, mais do que qualquer outra coisa, esclarecer,iluminar, para crescer... um beijinho

Ad astra disse...

à procura da minha metade perdida :)

Beijinho

sofialisboa disse...

e se eu te disser que ainda vais amar ainda mais do que já amaste, acreditavas em mim? sofialisboa

BlueVelvet disse...

Linda história para explicar a existência do homem e da mulher.
Já temos a de Adâo e Eva, agora juntamos-lhe esta.
Quanto às almas gémeas, o problema é quando não somos a alma gémea da nossa.
Já me aconteceu.
Um beijinho

Maria Laura disse...

Concordo contigo. Dois são dois, nunca poderão ser um, independentemente do amor e da cumplicidade que existam. E um é inteiro, embora muitas vezes pense que não o consegue ser.

BlueVelvet disse...

Olá,
tenho pena que não consiga ver o vídeo, porque é mto interessante.
Mas deve ser um problema seu, porque nos outros blogs vê-se.
Tentei deixar-lhe aqui o endereço do youtube, mas os comentários não aceitam.
No entanto, se for ao youtube, em vídeos, e procurar por
Abraham: The Astonishing Power of Emotions - Esther Hicks. consegue ver este e outros relacionados.
Um beijinho