terça-feira, 22 de julho de 2008

"Uma voz no silêncio..."

Escondemo-nos, silenciamo-nos, abdicamo-nos do ser próprio que somos para nos moldarmos ao ser amado…

O medo de ferir, abrir diálogos passados para não por em causa um futuro incerto, quase sempre com os dias contados…

O espelho do quarto, o nosso melhor confidente, e aquele corpo que se arrasta sem forças para mais… o silêncio…

Existe sempre um dia em que a alma diz “BASTA”, como um grito fechado numa gaveta empoeirada pelo peso do tempo; há sempre um dia em que acordamos fartos de viver o que ainda não existe e queremos fugir do que já vivemos, fugir de nós, fugir de tudo e de todos…

Hoje atrevo-me a falar desses dias em que o mundo cai sobre as nossas costas sem que o possamos mais suster. Desse mundo aonde o silencio e o amanhã são almas gémeas que acabamos por sacrificar tudo o que ficou para trás, tudo o que foi bom, tudo o que deixou de ser, hoje, aqui e agora.

" Acordei com a sensação de que ..."

Até parece que foi hoje. Levantei-me, fiz as malas… e sempre em silencio, apenas sai…

Quinze anos de uma vida em comum e acordei com a sensação de que, à parte de termos compartilhado os lençóis da mesma cama e algumas horas de alguns dias das nossas vidas, não partilhamos absolutamente mais nada …

" Até já "

Ontem pela primeira vez bebi muito. A sangria de champanhe tornou-se uma fiel companheira destas minhas noites sem fim.

Durante anos permanecemos em silencio, sem uma palavra, sem nada …..

Chamei-te para a sala, no mais intimo dos silêncios. Atendeste o meu chamamento, mas não me entendeste ….. e ofereceste-me silencio outra e outra vez.

Tenho medo, tudo foi em tempos tão perfeito, tão singelo, tão bonito…

Abri a torneira da água quente e deixei encher a banheira. Entrei e mergulhei a cabeça para não ouvir nada…

Quando hoje acordei, já de dia, compreendi que tu já a muito que não estas ao meu lado, foste-te embora e nunca mais voltaras … nunca mais…

Assim ficarei pela noite dentro, unido pela força do corpo e da alma. A vida, essa é deveras injusta… Apaguei a televisão… não consigo mais ver esses filmes dramáticos que me deixam triste e com vontade de chorar, chorar sem parar…

Hoje foi uma das ultimas vez que te falei. Ainda te lembras quando me chamavas “amor” e eu te dizia “eu te amo”?

A vida abraçou-se a mim e voltou a fugir… partirei muito em breve sabendo que tive a oportunidade para ser felizes aqui, convosco, para sempre…

Meus filhos vocês são a verdadeira obra de arte da minha vida, e só por isso valeu a pena…

Até já.