Eu lembro-me que quando era jovem, ouvia por vezes os adultos comentarem: fulano partiu.
Esta era a forma menos dorida que eles tinham para se referir a alguém que tinha morrido.
Era um jeito delicado para citar a morte sem que ela parecesse tão chocante.
Cresci e comecei também a falar assim - fulano partiu - acabei pois por achar que esta era uma forma menos complicada , menos violenta, de me referir à morte dessa maneira.
Quando se diz que alguém morreu, dá a impressão que se acabou, desapareceu e imaginar que alguém a quem queremos bem acabou ou desapareceu para sempre é terrível.
Dói mil vezes mais do que enfrentar a sua própria ausência.
Partiu já é diferente, dá uma sensação de que em algum ponto da vida nos reencontraremos com essa pessoa novamente.
Fica mais fácil imaginar que ela viajou, numa viagem sem data para voltar, mas com retorno garantido.
Enfim!!!.
Descobri recentemente, que existe uma outra categoria dentro deste universo.
São aqueles que nunca morrem e, portanto, jamais partem.
Falo daqueles que embora desapareçam da nossa convivencia fisica, eternamente se fazem presentes na nossa memória e dentro de nós.
Os que nunca partem são as pessoas que nortearam os nossos dias, colocaram neles um significado importante e deixaram, em nós, uma marca tão profunda que não importa onde estejam já que ao nosso lado, de uma forma ou de outra, sempre se manterão.
Morrer, partir, são coisas simples, coisas do dia-a-dia. Acontece a quase toda a hora, em todo lugar, com todas as pessoas.
Os que nunca partem e os que nunca passam pela dor de assistir alguém, que nos é querido, partir são os afortunados desta nossa vida.
Dores momentâneas, saudades e ausências à parte, felizes são pois daqueles que amaram alguém a ponto de jamais deixá-los partir de dentro de si.
Quando chegar a minha vez de partir, caso exista alguém que teime em que eu permaneça vivo, dentro de si, então eu direi que valeu a pena ter passado por esta existencia e a minha estadia, nesta vida, não foi em vão….
Mas enquanto permanecer por cá, só tenho que realçar que dentro de mim moram algumas pessoas que nunca deixarei que partam, tal como não deixarei que partam outras que ainda estão por aqui.