quinta-feira, 20 de maio de 2010

... "Adeus, não afastes os teus olhos dos meus"...





David Fonseca

... " Dor "...


"Agora há uma dor que pousa nas palavras."



in " Nenhum Nome Depois"

Maria do Rosário Pedreira

... " Tenho a certeza " ...


" Tenho a certeza de que pensas que eu não compreendo
o que estás a passar, mas compreendo.
Acontece que às vezes o nosso futuro é ditado por aquilo que somos,
e não por aquilo que queremos"

in "Diário da Nossa Paixão"

Nicholas Sparks

... " Esta manhã "...


Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele.
E o corpo doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.

No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta.

Nem mesmo à despedida foram os gestos contundentes:
tudo o que vem de ti é um poema.
Contudo, ao acordar, a solidão sulcara um vale nos cobertores
e o meu corpo era de novo um trilho abandonado na paisagem.

Sentei-me na cama
e repeti devagar o teu nome,
o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras,
a dor esgota as forças,
são frios os batentes nas portas da manhã.


Maria do Rosário Pedreira

... " Ilusão "...






Sei que me escapa qualquer coisa quando faço da minha noite dia.


Mas não me salvo...


É eterna a falta de sono, ou a vontade louca de não sonhar.


Não baixo os braços...


Não desisto...


Eventualmente um dia o sono vem e eu não mais acordo.


Há um grito no fundo, alto demais para se perceber...


Há uma cegueira qualquer que me ilude, constantemente, a visão...



quarta-feira, 19 de maio de 2010

... " Depois do prazer " ...





Tô fazendo amor com outra pessoa


Mas meu coração vai ser pra sempre teu


O que o corpo faz, a alma perdoa


Tanta solidão, quase me enlouqueceu



Vou falar que é amor


Vou jurar que é paixão


E dizer o que eu sinto


Com todo o carinho, pensando em você



Vou fazer o que for


E com toda a emoção


A verdade é que eu minto,


Que eu vivo sozinho, não sei te esquecer



E depois acabou, ilusão que eu criei


Emoção foi embora e a gente só pede pro tempo correr


Já não sei quem amou, que será que eu falei


Dá pra ver nessa hora que o amor só se mede depois do prazer



(Refrão)


Fica dentro do meu peito sempre uma saudade


Só pensando no teu jeito eu amo de verdade


E quando o desejo vem é teu nome que eu chamo


Posso até gostar de alguém, mas é você que eu amo



Vou falar que é amor


Vou jurar que é paixão


E dizer o que eu sinto


Com todo o carinho pensado em você



Vou fazer o que for


E com toda a emoção


A verdade é que eu minto


Que eu vivo sozinho, não sei te esquecer



E depois acabou, ilusão que eu criei


Emoção foi embora e a gente só pede pro tempo correrJ


á não sei quem amou, que será que eu falei


Dá pra ver nessa hora que o amor só se mede depois do prazer



(Refrão)


Fica dentro do meu peito sempre uma saudade


Só pensando no teu jeito eu amo de verdade


E quando o desejo vem é teu nome que eu chamo


(É teu nome que eu chamo)


Posso até gostar de alguém mas é você que eu amo


(Você que eu amo)



Fica dentro do meu peito sempre uma saudade


(saudade)


Só pensado no teu jeito eu amo de verdade


E quando o desejo vem é teu nome que eu chamo


(É teu nome que eu chamo)


Posso até gostar de alguém mas é você que eu amo


(Você que eu amo)



Fica dentro do meu peito sempre uma


Saudade... saudade...



Composição: Sergio Caetano / Chico Roque

... " Mulheres " ...


Já tive mulheres
De todas as cores
De várias idades
De muitos amores
Com umas até
Certo tempo fiquei
Prá outras apenas
Um pouco me dei...

Já tive mulheres
Do tipo atrevida
Do tipo acanhada
Do tipo vivida
Casada carente
Solteira feliz
Já tive donzela
E até meretriz...

Mulheres cabeça
E desequilibradas
Mulheres confusas
De guerra e de paz
Mas nenhuma delas
Me fez tão feliz
Como você me faz...

Procurei
Em todas as mulheres
A felicidade
Mas eu não encontrei
E fiquei na saudade
Foi começando bem
Mas tudo teve um fim...

Você é
O sol da minha vida
A minha vontade
Você não é mentira
Você é verdade
É tudo o que um dia
Eu sonhei prá mim...

Já tive mulheres
De todas as cores
De várias idades
De muitos amores
Com umas até
Certo tempo fiquei
Prá outras apenas
Um pouco me dei...

Já tive mulheres
Do tipo atrevida
Do tipo acanhada
Do tipo vivida
Casada carente
Solteira feliz
Já tive donzela
E até meretriz...

Mulheres cabeça
E desequilibradas
Mulheres confusas
De guerra e de paz
Mas nenhuma delas
Me fez tão feliz
Como você me faz...

Procurei
Em todas as mulheres
A felicidade
Mas eu não encontrei
E fiquei na saudade
Foi começando bem
Mas tudo teve um fim...

Você é
O sol da minha vida
A minha vontade
Você não é mentira
Você é verdade
É tudo o que um dia
Eu sonhei prá mim...

Procurei
Em todas as mulheres
A felicidade
Mas eu não encontrei
E fiquei na saudade
Foi começando bem
Mas tudo teve um fim...

Você é
O sol da minha vida
A minha vontade
Você não é mentira
Você é verdade
É tudo o que um dia
Eu sonhei prá mim...

Martinho da Vila

sábado, 8 de maio de 2010

... " Há sempre um dia " ... 4/5/2008


Naquele ultimo ano tudo foi muito complicado. Há muito que tínhamos deixado de ser aquele casal quase perfeito, com um casamento quase perfeito, na realidade só aos olhos dos outros algumas vezes fomos o casal perfeito.

Pouco a pouco fomos dando largos passos para o protótipo de casal cujo único idilio era sobreviver a cada final de dia, sem nos queimar no magma provocado pela reciprocidade do ódio que gentilmente mantínhamos um pelo outro. Desta forma eu tentava evitar que as feridas abertas e incuráveis nos afastassem para sempre.

Eu saia de casa e não queria voltar a entrar, não queria voltar a ouvir uma mentira para justificar a hora tardia a que ela chegava a casa, por mais repugnante e triste que isso me possa hoje parecer.

Certo dia a discussão foi tal, que após ter sido insultado durante mais de duas horas, eu quase cheguei a vias de facto. Depois de atingir a porta do quarto com um violento golpe de punho fechado, aproximei-me dela e com a minha mão esquerda agarrei-a pelo braço direito, enquanto levantava a minha direita, bem aberta e ainda quente do golpe anterior... mas nada aconteceu... fui impelido a não cometer aquela loucura por algo que ainda hoje não consigo explicar, mas que na realidade agarrou na minha mão e a fez permanecer imóvel, e suspensa no ar... não sei o que me passou pela cabeça.


Ambos nos olhamos nos olhos, sem saber qual seria o passo seguinte. Ao ver a minha frustração ela soltou, mais uma vez, toda a sua irá e tentou agredir-me, enquanto me insultava e provocava na tentativa de que eu perde-se a cabeça.


Eu não a queria magoar..., eu não me queria magoar... mas já era tarde de mais para isso.


Nesse dia eu sai porta fora, era meio da tarde de um domingo solarengo, era dia da mãe. mas se na rua fazia um calor agradável, dentro de mim chovia tanto que era quase impossível vislumbrar as marcas que separavam a minha vida daquela decisão.


Apanhei um táxi e pedi ao condutor que conduzisse sem destino até que eu lhe dissesse o contrário. Ele não fez qualquer pergunta, apenas engrenou a primeira velocidade e iniciou a marcha do veiculo pelas ruas, sem rumo, sem destino.


Tinha a alma completamente molhada, estava cansado, a decepção tinha-se apoderado do sangue que me corria nas veias. Sentia-me intoxicado pelo tipo de vida que levava. Cada dia me sentia um homem repugnante, nefasto, transviado. Na realidade não conhecia aquele animal, aquele ser que vivia dentro de mim, e nesse momento pensei... "Quero-te fora de mim...! " .


Estava tão revoltado que mandei o taxista parar o carro. Abri a porta rapidamente, e sem ter tempo para escolher o sitio adequado, vomitei violentamente para cima de um pára-choques de um carro ali estacionado.


Estava agora ali debruçado enquanto dentro de mim uma voz dizia que " por mais que o meu casamento se afundasse nesse oceano de incertezas, para as quais não havia salvação, ela não tinha o direito de te fazer o que sempre fez. "


O taxista não dizia uma palavra, mantinha o táxi parado ao meu lado. Nem sequer saiu do veiculo para saber se eu estava bem. Levantei-me e vi que estava-mos perto de um bar que era comentado por ser bem frequentado. Fechei a porta do táxi, paguei o que devia e caminhei pelo passeio, como se este fosse o único trilho que me pode-se levar a minha nova morada.


Atravessava as ruas sem olhar para nenhum dos lados, não ouvia o barulho dos meus passos, nem da cidade que me rodeava, apenas via os olhos dos meus filhos, fixados em mim, como se eu fosse um ser aberrante, na expectativa de que eu encontra-se uma solução e os leva-se comigo.


Nesse dia entendi que por vezes o mundo cai nas nossas costas sem o que possamos mais suster, esse mundo onde o amanhã nos obriga a sacrificar tudo o que ficou para trás, tudo o que foi bom, mas também tudo aquilo que há muito o deixou de ser.


Há sempre um dia em que a alma diz "BASTA!", há sempre um dia que acordamos fartos de viver o que ainda não vivemos, e acima de tudo queremos fugir do que já vivemos, fugir de nós, fugir de tudo e de todos...


Há sempre um dia...

... " Lembra-te sempre de mim " ...




Camané


Compositores: David Mourão Ferreira E José Mário Branco


Se alguém pedir a teu lado


Qua na música de um fado


A noite não tenha fim


-lembra-te logo de mim !


-lembra-te logo de mim


Se o passado


De repente


Mais presente


Que o presente


Te falar também assim


-lembra-te logo de mim!


-lembra-te logo de mim!


Se a chuva no teu telhado


Repetir o mesmo fado


E a noite não tiver fim


-lembra-te sempre de mim !


-lembra-te sempre de mim !


O dia não tem sentido


Quando estás longe de mim...


Se o dia não tem sentido


Que a noite não tenha fim!


Que a noite não tenha fim!


O dia não tem sentido


Quando estás longe de mim...


Se o dia não tem sentido


Qua a noite não tenha fim!


Se a chuva no teu telhado


Repetir o mesmo fado


E anoite não tiver fim


-lembra-te sempre de mim!


-lembra-te sempre de mim!


-lembra-te sempre de mim!


-lembra-te sempre de mim

sexta-feira, 7 de maio de 2010

... " Hold me "...




Hold me when I'm here...
love me when I'm gone!

... " Adeus - (as palavras estão gastas)" ...


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto,
antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


Eugénio de Andrade (José Fontinhas)
Este inspirado poeta português,
nasceu na Póvoa de Atalaia, concelho do Fundão, a 19 de Janeiro de 1923

... " O menino da sua Mãe " ... - Fernado Pessoa.


No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem!
Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe.
Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe

Fernando Pessoa

... " Porque tu és o meu sonho "...








Sonhei contigo.
Já não me lembrava o que representava um sonho,
Já que os pesadelos
E as insónias eram a muito uma constante para mim.

Quebraste a nebulosa rotina das minhas noites naquele sofá.
A tua beleza surpreendeu a escuridão que atormenta o meu sono.
As trevas se intimidaram diante do brilho de teu sorriso.
Provei da tranquilidade ao ouvir a tua voz.

Eras tão real...

Podia sentir o teu cheiro e provar o teu beijo.
Podia tocar o teu rosto e acariciar os teus cabelos.
O meu vazio, de então, foi preenchido.

A minha alma acalmou-se com a tua presença na minha mente.
Desejei que essa noite fosse infinita.

Quem precisa do dia quando tem a ti como sonho?
Desejei dormir pela eternidade,
Já que esse meu coma seria um renascer.

Pobre de mim....

O meu corpo despertou sem que percebesse.
A luz do sol que é fora sempre um motivo de lamento,
Transformou-se em bênção.

A manhã trouxe-te a ti,
O meu sonho...

Estavas bela,
Linda,
Sedutora,
Iluminada!

Cruzei-me com o teu olhar.
E...
Naquele momento foste só minha.
Eras minha...

Dei-te um simples, e sentido
Bom dia,
Querendo agradecer...

Depois sorri,
Na vã tentativa de conter toda alegria que me tomava o corpo.

Abracei-te
E constatei a necessidade de entregar-te o meu coração.

Ele já é teu...
E tu és o meu sonho real.

... " A Palavra " ...


"A palavra foi dada ao homem para explicar os seus pensamentos,
E assim como os pensamentos são os retratos das coisas,
Da mesma forma as nossas palavras são retratos dos nossos pensamentos."

Jean Molière

..." Na Luz a Prumo " ...


Se as mãos pudessem (as tuas,
as minhas) rasgar o nevoeiro,
entrar na luz a prumo.
Se a voz viesse.
Não uma qualquer:a tua,
e na manhã voasse.
E de júbilo cantasse.
Com as tuas mãos,
e as minhas,
pudesse entrar no azul,
qualquer azul: o do mar,
o do céu,
o da rasteirinha cançãode água corrente.
E com elas subisse.
(A ave, as mãos, a voz.)
E fossem chama.
Quase.

in Os sulcos da sede,
Eugénio de Andrade.

... " Como Tu ... "


Assim é a vida,
pedra,
como tu. Como tu,
pedra pequena;
como tu,
pedra leve;
como tu,
canto que rodas
nas calçadas
e nas veredas;
como tu,
calhau humilde dos caminhos;
como tu,
que em dias de tormenta
te afundas
no lodaçal da terra
e depois
feres lume
sob os cascos
e os rodados;
como tu, que não serviste
para seres pedra
de um palácio de bolsa,
nem pedra de um tribunal,
nem pedra de um solar,
nem pedra de uma igreja;
como tu,
pedra aventureira;
como tu,
que talvez sirvas
só para uma funda,
pedra pequena
e
leve...


in Mesa de Amigos
León Felipe (1884-1968)